Som da semana: Funke'n'stein - That's Funk!!

Saturday, September 13, 2008

Conta-me como foi...

Hoje foi daqueles dias em que inevitavelmente, fui forçado a recorrer às memórias. Começou o ano lectivo e mais uma vez, assisti àquelas cenas que certamente ficarão, tal como eu, na memória de muitos e muitas… a entrada pela primeira vez na escola, vulgo “primária”. Doces anos a meia dúzia! E é especial ver a kiducha da casa também no seu debut. É lindo!
É sempre um momento especial poder observar as caras daqueles minorcas. Uns cheios de entusiasmo enquanto outros de pânico numa combinação perfeita com os respectivos progenitores. Lá se vão arrastando para as salas atrás daqueles que, ao longo de 4 ou mais anos vão ser os seus mestres, amigos, pais, guarda-costas, guias ou ainda… babysitter (pena é que cada vez a cena se repita com mais frequência.)
Ao contrário de há 30 anos atrás os petizes assemelham-se mais a bebés em ponto grande, carregados com pilhas duracell mas sem o necessário controlo de autonomia na programação a que foram sujeitos, antes de serem lançados no mercado. Antigamente a malta saía de casa já com a lição estudada antes de entrar na escola. “Porta-te bem ou levas no focinho, e ai de ti que tenha que ir à escola!” ouvia eu quase todos os dias. E não é que resultava mesmo! Quatro anos depois, estava pronto para a vida. O verdadeiro artista! A “querida” e distinta professora era soberana e a partir daí estávamos à mercê de sua majestade, sem caganeirices. Agora os professores (uma espécie de reprogramadores de miúdos no início de vida escolar) têm pela frente uma tarefa bem mais complicada. Há que ir aos livros de programação, aferir escrupulosamente os passos a seguir e incutir um novo software com várias funções básicas tais como: conseguir ficar sentadinho durante mais de 10 minutos; não interagir com os colegas buzinando constantemente os ouvidos do stôr; evitar fazer xixi nas calças, meter o dedo no nariz ou fazer queixinhas para chamar a atenção. E há aqueles que ainda nem sequer sabem limpar o rabiosque, já para não falar em comer com talheres ou limpar os beiços cheios de chocolate depois de comer o gorduroso Bolicao ao intervalo. Meus amigos, garanto-vos que a tarefa não é fácil. Também um dos problemas que um professor tem que enfrentar, é aturar os paizinhos. Este capítulo exige uma formação especial já que o burgo assume-se como uma das maiores ameaças à qualidade do ar que se respira nas escolas. Sobre este assunto, um conselho é “no mercy” aos progenitores galinha. Aquela guerra é só minha e mais nada! Trata-se de “savoi faire”, ou um espécie de pressão psicológica ao estilo do “Silêncio dos Inocentes”. -Eh lá o gajo é duro, parece que sabe controlar a cena! – dizem os pais já resignados com a sorte do filho, mas já desarmados pelos limites impostos. Mas sempre antes isso que mole, o que dava azo a umas manipulações birrentas dos papás. É que começar com uma derrota em casa a coisa fica difícil pró resto do campeonato. E não é preciso ser nenhum guru da educação ou um Eduardo Sá (des)iluminado para constatar estas cenas vulgares do sistema. Hoje a psicologia é palavra de ordem nas escolas. E se as avaliações psicológicas dos pequenos ditadores se encomendam tal qual os pedidos de um movimentado restaurante da city, também seria recomendável fazê-lo aos fabricantes das peças… A verdade dos factos baseia-se sempre na origem das causas.
Contudo, e felizmente, posso dizer convictamente que os professores são melhores, mais ecléticos, mais atentos, mais capazes, mais interactivos, mais justos e muito mais funcionais. Mas como não há bela sem senão também são mais burocratas, mais resignados, menos cúmplices entre colegas, mais escravos do marketing das editoras e das marcas, mais acorrentados ao sistema. Os tempos são outros é verdade, mas porque tive uma infância “resmas” de feliz num ambiente bairrista da capital da beira baixa, não consigo deixar de me desprender deste saudosismo de época que vai e volta ao sabor dos tempos. Enquanto durar irei sempre ver esta doce imagem, com retratos de inocência e ternura que me iluminam os olhos atentos e continuando a sentir o ensino não apenas com rectidão, mas sobretudo com o coração.

Monday, September 8, 2008

(Des)articulações da (des)educação

Antes de mais, cumprimentos funkinianos a todos. Cá estou eu novamente, após uma longa pausa de férias e de início do ano laboral, no meu caso, ano lectivo. E enquanto por aí andei de lés a lés por terras lusitanas e assim o orçamento o permitisse (sim, porque vida de professor é difííííííícil), algures num castelo assombrado ministerial, se apurava um doce veneno, a servir aos servos da terrível bruxa má de seu nome Lurdes “maquiavélica” Rodrigues. Confesso que o entusiasmo não foi o mesmo de anos anteriores, e o que faço por paixão há 9 anos não deixa de o ser. Mas é com amargura e raiva interior que me embrenho nos meandros do sistema, onde (apesar do inegável valor dos professores na luta por esta nobre causa) repugna-me o sabor traiçoeiro do veneno que é a Avaliação dos professores neste molde. E não é difícil aperceber-se do nervosismo e da insegurança que paira no ar. É uma missão ingrata quer para avaliadores quer para avaliados, até porque existe demasiada cumplicidade entre colegas nas escolas e agrupamentos, alguns de uma vida de ensino. Nada será impossível, apesar das premissas picuinhas e arrogantes, que estão implícitas na avaliação de desempenho dos docentes.
Como se não bastasse, agora a nova palavra de ordem cá no sítio é ARTICULAÇÃO. Ele é porque temos que articular as actividades umas com as outras, articular currículos, articular anos de escolaridade, articular disciplinas, articular decisões entre grupos, articular interesses, etc, etc, etc. Há uns anos atrás a palavra da moda era INTERDISCIPLINARIEDADE. É o uso da terminologia implícita na evolução do ensino em Portugal no seu melhor. Isto a mim cheira-me a provocações ao trabalho de quem ensina, vindo dos senhores das secretárias na obrigação de produzir mais uns decretos, uns artigos ou uma leis completamente desadequadas a uma sociedade remendada, onde os modelos de outros países se copiam sem critério e sem escrúpulos. Não nos tomem por parvos pois temos consciência destas terminologias e sempre trabalhámos nestas bases, de acordo com os recursos, os meios e os indivíduos ao longo de anos, sempre atentos a mudanças favoráveis e actualizações constantes. Não nos façam sentir estúpidos pois todo este parlapiê não nos intimida nem nos desmoraliza.
Hoje caminhamos num túnel sem luz, desarmados de convicções, como uns verdadeiras marionetas articuladas ao sabor de um governo que usa a educação de forma superficial. Um verdadeiro showbizz de sensacionalismos aos olhos dos menos esclarecidos. Inventam-se “Magalhães” e softwares com verdadeiras negociatas de grande escala, tudo em nome do progresso e das novas tecnologias... Se for para facilitar a vida aos profs, é por os putos atrás do portátil com o software adequado e os gajos aprendem sozinhos. Se calhar assim há mais tempo para perder com a dita avaliação, pois o tempo bem empregue é passado a preencher resmas de papéis. Relatórios de avaliação de tudo e mais alguma coisa, relatórios para salvaguardar o rabo dos ataques da legislação, relatórios para descargas de consciência, relatórios para retirar apoio pedagógico a alunos que disso dependem para progredirem, relatórios que ninguém lê e que no fundo irão parar ao arquivo morto. Parece-me a mim que hoje em dia o professor passa a ser o centro da educação e não o aluno. Se não fossem os constantes ataques ministeriais a esta classe não haveria tanto medo, tanta angústia e tanta necessidade de cada professor construir o melhor "abrigo" que puder e souber…E logo o sinismo e a hipocrisia se fizeram convidados.
Aqui manifesto o meu profundo desagrado pela utilização da arma mais mortífera que um governo, à imagem de uma Europa desigual, utiliza para desmantelar as classes estruturais de um povo, A ESTATÍSTICA em nome da ECONOMIA.
Articuladamente falando, desejo um bom ano lectivo com muita mobilidade nas “articulações”, de preferência sem rupturas, entorses ou fracturas de um sistema que, de certeza, não passava num detector de metais de um aeroporto, pois está cheio de agrafos e de parafusos de platina…