Som da semana: Funke'n'stein - That's Funk!!

Saturday, November 1, 2008

Histórias de Vidas em Sketches (II)

Aqui deixo mais um sketch de inspiração hitchcokiana made por DrFunkenstein. Aterrorizem-se por favor...

O aviso

Era Domingo e a “família” estava reunida. Festejava-se mais um aniversário da matriarca do clã. Tinham combinado uma celebração de evocação à experiência e à sabedoria por mais um ano. Ao se encontrarem todos reunidos decidiram entrar. Um arrepio atravessou-me a espinha, como se de algo transcendente me quisesse dizer: Saiam!
Havia gente. Muita gente. Olhavam-nos de soslaio. Enquanto uns se refastelavam com a carnificina dos seres já inanimados, outros agoniavam enquanto eram encaminhados para a fila da tortura. O tempo era tortuoso e aguardava-nos sensações horríveis. Não consegui deixar de pensar no arrependimento que me invadia. Estúpido engano o nosso.
Mais alguns minutos eternos de espera até que aquela mulher nos faz o sinal. Éramos os próximos. Pensei que talvez fosse rápido, já não aguentava mais, apenas queria sair dali o mais rapidamente possível porque o cheiro era intenso, mas infelizmente aquele era um dia negro. Lá diz o dito: “Há dias de manhã, que um homem à tarde, não pode sai à noite.”
Fomos forçados a sentar-nos. 5 por metro quadrado como prisioneiros agrilhoados e apertados numa nau escravizadora do Portugal de outrora. O desconforto começara-se a sentir, os membros inferiores estavam como que acorrentados e os tóraxes começavam a sentir-se esmagados pela pressão à retaguarda por excesso de acomodações.
A mulher aproximou-se com cara de desprezo e deu-nos a escolher… Ah triste ironia, pois quem nos tinha escolhido tinham sido “Eles”.
Talvez pudesse ter sorte, mas não. Era uma autêntica roleta russa. As cartas estavam em cima da mesa e cada um aguardava com nervosismo o que irreversivelmente se poderia escolher naquele sítio horrendo, mesquinho e agoniante.
Observei os outros. Uma mulher já de meia-idade desconfortavelmente situada, visivelmente frustrada e arrependida por se ter deixado encontrar naquele lugar, olhava-me sofrida. Abanava a cabeça com um gesto de cumplicidade pela mesma desgraça pois partilhava connosco longos momentos de agonia. Entretanto, eis que alguém deixa cair dissimuladamente um bilhete em pedaço de papel gorduroso. Caiu-me no colo e quase como um reflexo fechei-o na minha mão. Fiquei apreensivo mas não me contive. Desenrolei o bilhete e dizia em letra trémula. «Saiam daqui agora. Ainda têm tempo. Isto não presta.» Fiquei perplexo e fitei os meus com ar de despreocupação. Fingi pois não lhes quis aumentar o pânico. Não mereciam nem mais um segundo de tortura.
O tempo consumia-se e mais dois idosos eram apanhados nas malhas daqueles velhacos e energúmenos. Fizeram-me pena, mas não havia nada a fazer…
Longos minutos depois, regressa a mulher do “Demo”. Traz consigo o que menos desejámos naquele sitio… Que seja rápido! – pensei. Só queria fugir dali e comigo levar os meus. Mas a tortura ainda não tinha acabado.
Ao abrir a boca uma sensação de frio e dureza atravessou-me o esófago, como se tivesse engolido um punhal. A insistência obrigou-me a repetir aquele gesto que se tornara um suplício até que finalmente e contrariando os carrascos, desisti.
Com um vazio no estômago e os olhos carregados de raiva, procurei outra saída. Desta vez um pouco menos agressiva. Com a faca tive que cortar. O desespero anestesiara-me e a dor psicológica era maior do que a impressão de espetar na carne. Cerrei os dentes e aguentei…
Já prestes a terminar aquele momento de tortura, consegui sair e com um pé fora da porta jurei a mim mesmo nunca mais me aproximar daquele sítio.

Tinha sido o pior bacalhau que já comera. Frio e duro, com cebola em cima para disfarçar a incompetência do cozinheiro. As batatas eram oleosas e escassas. Só a carne do lombo de porco mereceu uma pequena consideração. E o serviço…horrível. Uma mulher mal encarada com sotaque de leste e desajeitada com o serviço, quase nos obrigava a escolher o que tinha. Já para não falar do tempo de espera até me sentar e o tempo que aguardei pela comida.
Jurei a mim mesmo, que nunca mais voltaria àquele... restaurante.

1 comment:

Nuno Pereira said...

http://www.drfunkstein.com/