Som da semana: Funke'n'stein - That's Funk!!

Friday, March 9, 2012

Sol & Dão

«Solidão...»
in textos de "A metamorfose de um anjo"

A solidão é como um grito no vazio
no meio do nada, num saco sem fundo,
num espaço fechado hermeticamente.
E que às vezes pula da alma sem ser desejada
corrompendo o espírito e
instalando-se no corpo, como um parasita
que maça, que corrompe e que dói.
Quando a solidão se acomoda, o pânico
da dor, que se espalha da mente ao corpo
tornam-se insuportáveis.
Então, pequenos pontos de referência captam
uma atenção vaga, pensativa e deambulante,
por entre memórias gravadas como tatuagens.
O nó da gravata invisível ajeita-se na garganta, impiedoso.
O estômago contrai-se e o corpo rejeita as sensações
que lhe são devidas.
A transformação cumprimenta-me,
cínica, necessária e implacável.
Tento resistir-lhe por entre peripécias inventadas,
desafios encomendados e jogadas a solo.
Desabafo comigo, escrevo pra mim e faço-me companhia
enquanto a solidão, ali ao lado, me fixa num
olhar dasafiador. Resisto e resisto mas não a venço.
Disparo contra ela em todas as direções mas nada a
atinge. Nada a dissipa.
Afinal o amor, não atinge o nada. O amor partilha-se,
oferece-se e procura quem o queira, o deseje e o encontre.
Enquanto isso, vai vivendo na solidão por tempo
indeterminado. O raio da solidão!
A estúpida solidão, é agora o tempo que comanda a vida,
porque o sonho... deixou de o ser.
Quando voltará!? Não sei...talvez um dia.
DrFunkenstein R.B.




___________________________________
A Dúvida, a Solidão, logo... a Escrita
Na vida, chega um momento - e penso que ele é fatal - ao qual não é possível escapar, em que tudo é posto em causa: o casamento, os amigos, sobretudo os amigos do casal. Tudo menos a criança. A criança nunca é posta em dúvida. E essa dúvida cresce à sua volta. Essa dúvida, está só, é a da solidão. Nasce dela, da solidão. Podemos já nomear a palavra. Creio que há muita gente que não poderia suportar o que aqui digo, que fugiria. Talvez seja por essa razão que nem todos os homens são escritores. Sim. Essa é a diferença. Essa é a verdade. Mais nada. A dúvida é escrever. É, portanto, também, o escritor. E com o escritor todo o mundo escreve. É algo que sempre se soube.
Creio também que sem esta dúvida primeira do gesto em direcção à escrita não existe solidão. Nunca ninguém escreveu a duas vozes. Foi possível cantar a duas vozes, ou fazer música também, e jogar ténis, mas escrever, não. Nunca.
Marguerite Duras, in "Escrever"
_______________________________________
A Construção da Personalidade Criadora

A harmonia do comportamento social requer, todos o sabemos, tanto o isolamento como o convívio. Excessiva comunicação, debates exagerados de assuntos que requerem meditação e peso moral, avesso muitas vezes à cordialidade natural das afinidades electivas, não enriquecem o património de uma sociedade. Antes embotam e alteram o terreno imparcial da sabedoria.
A solidão favorece a intensidade do pensamento; por outro lado, torna de certo modo celerado o homem que lida com a força material, com a técnica, com os outros homens. O impulso é a força que actualiza estas duas atitudes. Os ricos de impulso que se prontificam a uma reacção agressiva ou escandalosa, esses são associais especialmente difíceis. Todo o revolucionário é associal, se o impulso for nele um desvio da vida instintiva, e não uma atitude de homem capaz de obedecer e mandar a si próprio.
«A felicidade máxima do filho da terra há-de ser a personalidade» - disse Goethe. Personalidade criadora, obtida à custa do ajustamento das nossas próprias leis interiores, que não serão mais, no futuro, forças repelidas ou encobertas, mas sim valiosas contribuições para o tempo do homem. Quando tudo for analisado e conhecido, só o justo há-de prevalecer.
Agustina Bessa-Luís, in 'Alegria do Mundo'

No comments: