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Friday, February 11, 2011

O escritor de epitáfios

A hora do conto

Era uma vez um homem que gostava de pintar mosaicos. Mosaicos de sabores, de cores, de sentimentos, de experiências bizarras, de partilhas, de cheiros, de paisagens e de tudo o que para ele poderia ser diferente, mesmo que não o fosse...
Era uma vez um homem que achava enervante os enervantes...
Era uma vez um homem que quando falava,  pescava à bomba num rio...
Era uma vez um homem que ostentava com orgulho as cicatrizes da sua história...
Era uma vez um homem que pensava um dia ser realmente livre quando a sua reputação fosse por água abaixo...
Era uma vez um homem que pedia conselhos ao passado para compreender o presente e enfrentar o futuro...
Era uma vez um homem que sabia ouvir a monotonia de uns, sabia envolver-se no entusiasmo de outros e sabia abraçar as causas de tantos...
Era uma vez um homem que carregava uma mochila, a qual ia enchendo de coisas por onde passava...
Era uma vez um homem que percorria labirintos e trocava impressões com quem por ele passasse...
Era uma vez um homem que sabia ser um lugar de passagem...
Era uma vez um homem que fazia refrescos com os limões que a vida lhe dava...
Era uma vez um homem que entendia as artes moribundas e reinventava-as...
Era uma vez um homem que afirmava que a maior parte das vezes que se vê uma luz ao fundo do túnel, é um comboio a vir na nossa direcção...
Era uma vez um homem que ensinava os outros a falar dos elefantes que tinham escondidos na sala...
Era uma vez um homem que sonhava  a vida e vivia nos sonhos...
Era uma vez um homem que colecionava sorrisos...
Era uma vez um homem que se orgulhava de possuir o maior tesouro do mundo...
Era uma vez um homem que fazia laços da grossura de um camelo que segura um navio...
Era uma vez vez um homem que consumia simplicidade para lhe aumentar a adrenalina, era a sua dependência, um vício descontrolado, uma espécie de desporto radical da mente...
Era uma vez um homem que preferia desejar que querer...
Era uma vez um homem que vivia nas poesias, passeava pelos contos e descobria-se nas fábulas...
Era uma vez um homem que gostava de escrever e imaginar coisas onde mais ninguém conseguisse chegar. Um dia tornou-se um grande escritor... da sua própria vida, e finalmente conseguiu matar todos os seus desejos. Por isso, intitularara-se a si próprio de «o escritor de epitáfios», mas morreu feliz. Os desejos bons, ficaram registados e perpetuados em lápides singulares com frases dignas de memória. Os maus, esses, também.
Era uma vez um homem que não era um deus. Era também e apenas um homem.

R.B.  - DrFunkenstein

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